quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O setor de diversões tem vagas sobrando

O que poucos sabem sobre como descobrir e utilizar um palco para realizar suas apresentações e tentar subir na vida


Foram três anos de vazio, aguardando ansiosamente pela sensação de estar num camarim novamente, olhando para aquele espelho rodeado de lâmpadas. A vontade e a saudade eram enormes, mas como voltar a atuar? “Meu, nem posso acreditar, o teatro é nosso”. O desabafo é de Rodrigo Araújo, estudante que ao lado de quatro amigos aprecia o palco que agora tem para usufruir. O momento chegou e a distância pouco importa agora. Alguns deles pegaram três ônibus, numa viagem de quase uma hora e meia até o CEU Vila Rubi, na região do Grajaú.
Todos estavam felizes pela primeira reunião do Grupo de Teatro Ateliense, formado por velhos amigos que simplesmente sentiam saudade dos palcos.
“Já temos apresentação marcada para 23 de maio aqui mesmo no CEU, e podemos usar o teatro para ensaiar todos os domingos”, conta Priscila Soares, líder do grupo amador. Eles estão ocupando apenas algumas poucas das centenas de cadeiras do teatro, ouvindo as novidades contadas pela diretora.
Poucos sabem das inúmeras opções de cultura que os CEUs (Centro de Educação Unificado) deixam à disposição da população. “Decidimos entrar em contato com a escola, e depois de apenas algumas conversas e propostas, a direção liberou um espaço para nós. A verdade é que não tínhamos dinheiro, mas queríamos um lugar para ensaiar”, conta Priscila.
O terceiro andar do CEU Vila Rubi abriga cinco ateliês, dos quais quatro ficam vazios e desperdiçados nas tardes de domingo. O Grupo Ateliense, cujo nome é um trocadilho entre “ateniense” e “ateliê”, ocupa apenas uma dessas salas.
“Será que há dez anos o Brasil ofereceria tanto espaço para uns loucos que só queriam fazer arte?”, questiona Rodrigo. “Uma coisa é fato: vivemos num país diferente daquele em que nascemos”.
“Quando fazíamos teatro estudantil, apresentamos em diversos lugares, e não podemos deixar de destacar que os CEUs têm os melhores equipamentos que já usamos”, explica Priscila sobre o patrimônio público.
Os atores ainda podem contar com a ajuda da instituição para imprimir textos e cópias utilizados para ensaios. “O objetivo, claro, não é ganhar dinheiro com tudo isso. Só queremos apresentar por diversão sem cobrar nada, no máximo um quilo de alimento não perecível para doarmos para alguma instituição”, expõe Rodrigo.
“Está tudo aqui à disposição da população, de graça. Agora falta apenas despertar o interesse pela arte nos brasileiros”, finaliza o ator, girando os braços para todos os lados do teatro.

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