quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A loucura escondida em nós

Mesmo que imperceptíveis, todo louco tem mesmo suas manias

“Hitler pode ter sido uma pessoa com problemas relacionados ao ânus”. A afirmação é de Bruno de Luca, 20, estudante de psicologia, em relação ao excesso do desejo de ordem do ditador. “As crianças entre dois e quatro anos começam a segurar a vontade de ir ao banheiro devido ao surgimento da consciência do domínio do esfíncter, o que lhes dá pela primeira vez a sensação de controle. Uma frustração vivida por uma criança nessa fase, como defecar-se em público, pode influenciar uma personalidade pelo resto da vida”, explica Bruno.
Pouco se sabe a respeito das manias, ou melhor, TOCs (Transtorno Obsessivo Compulsivo) de Hitler, mas com certeza todas eles estão relacionadas às suas experiências e/ou frustrações. Segundo o autor e psicólogo Daniel Marcelli, em seu livro Infância e Psicopatologia, “as condutas obsessivas assumem a forma de pequenos rituais dispostos em setores suscetíveis de mobilizar a angústia”.
Bruno Bezerra, estudante de jornalismo, diz ter hábitos muito estranhos. São basicamente rituais que realiza na hora de se arrumar. Ele religiosamente veste primeiro a calça e depois a camiseta. Na hora de tirar a roupa, tem que manter a mesma ordem: calça e depois camiseta. E com os sapatos também. Se calçar primeiro o pé direito terá de descalçá-lo antes do esquerdo.
“Esses TOCs não tem origem definida; mas provavelmente são frutos de alguma experiência que traumatizou e traz angústia ao ser humano”, conta Marina Fernandes, estudante de psicologia. “Muitas vezes as pessoas sequer se lembram dessa tal experiência, mas ela fica gravada no subconsciente”.
O mais impressionante é que todos têm hábitos que não possuem muito nexo. Muitos conhecem essas manias, consideram-nas ridículas, mas não conseguem controlar tal comportamento compulsivo.
O simples ato de mexer no volume da televisão ou do rádio do carro abriga uma mania quase unânime entre as pessoas. Começa-se a aumentar o volume da TV até o momento em que o som se tornar agradável, e nesse momento checa-se o número que o aparelho exibe. Se o volume estiver marcando 19, torna-se quase irresistível arredondá-lo para 20. Pois é, a vontade de ordem visual supera a satisfação que o volume traz.
E há ainda outros exemplos mais comuns. Quem nunca comeu aquele chocolate chamado Tortuguita? Aquele em cuja propaganda uma tartaruguinha sempre tinha sua cabeça comida. Seja por influência do comercial ou não, é difícil encontrar alguém que comesse o chocolate todo de uma vez. Há algo que praticamente força as pessoas a comerem primeiro a cabeça, patas e rabinho para depois deliciar o casco recheado.
Cada um pode ter um motivo para fazer isso, mas é óbvio que tudo tem origem em alguma (micro)angústia. “Seja você Hitler ou qualquer outra pessoa; ninguém é livre de uma experiência que tenha gerado frustração e pelo menos alguma mínima obsessão”, resume Marina.

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