quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Crescendo sem pais

As crianças criadas em abrigos

Eliane é mãe de quatro filhos. Seu marido é viciado em drogas e a agride com frequência. Suas condições financeiras não lhe possibilitam cuidar dos quatro filhos, tampouco do quinto que está para vir em breve.
“Todos familiares de Eliane insistem para que largue o marido, mas ela fez questão de dizer que o ama na frente do Juiz”, conta a assistente social Fátima Lopes de Oliveira.
Esse é um caso comum na Vara da Infância do Fórum de Santo Amaro, e o Juiz em questão avaliava as possibilidades de se manter a guarda das crianças com a mãe. Seus filhos foram enviados para um abrigo, onde primeiramente passarão pelo processo de reintrodução à família. “E caso seus pais ou familiares sejam considerados incapazes de possuir a guarda, essas crianças são encaminhadas para adoção”, relata Fátima.
O Lar São Thiago é um abrigo localizado na Zona Sul de São Paulo, próximo a Itapecerica da Serra. Essa casa abriga 39 crianças, a maioria delas já com mais de oito anos de idade. A instituição sempre passou por inúmeras dificuldades, como falta de alimento e estrutura. O lar depende muito de doações, mas não é apenas comida o problema do lugar. “A gente também sente muito a falta de produtos de limpeza, pois recebemos geralmente apenas alimentos”, explica Vera Lúcia Moraes, monitora do Lar São Thiago.
Um muro foi construído recentemente para que as crianças não tivessem contato com um córrego poluído que passa por trás do playground do lar. A sala de estar possui goteiras no teto e há outro muro, mas este com risco de desabar sobre o lugar onde antigamente funcionava uma horta.
Frente a todos esses problemas, está uma equipe de voluntários que trabalham diariamente na instituição. “O pessoal da limpeza e da cozinha já trabalha com a gente há muito tempo, são funcionárias fiéis. Estão aqui todos os finais de semana”, conta Vera.
E assim o abrigo vai tomando conta das crianças até que seus pais tenham os problemas judiciais resolvidos. Quando isso não acontece, o menor pode ser enviado para adoção.
Porém, muitos deles já estão em idade avançada ou têm irmãos, o que dificulta o processo. “Há irmãos que são adotados juntos, mas geralmente é um caso de adoção internacional. Assim como crianças deficientes”, revela a assistente social. Segundo ela, não há muitas adoções desse tipo por parte de brasileiros. “Os irmãos podem até serem separados na adoção, desde que as famílias assumam o compromisso de manter contato entre eles.”, declara.
De qualquer forma, esse tipo de adoção se torna raro. “Algumas dessas crianças desenvolvem um sentimento de culpa, pois assumem alguma responsabilidade pela distância com os pais. Mas em outros casos, essas crianças sequer sentem a falta de uma mãe. Só sentiriam falta dos próprios irmãos”, diz Fátima.
E por fim, alguns desses jovens chegam à maioridade. “Nesses casos a gente tenta reintegrá-lo com a família, mas nem sempre é possível”, afirma Vera. Se não houver algum responsável com quem deixar o jovem, a única coisa a ser feita pela Vara da Infância é um trabalho de autonomia que o prepare para ser independente, definindo assim o fim de uma etapa na vida de um jovem sem pais.

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