
Foto: João Maia
“Com licença, posso tirar uma foto de vocês?”, é assim que Marco Oton, deficiente visual, aborda as pessoas na rua. Qualquer um olha com estranheza o sorriso desse rapaz que carrega nas mãos uma câmera e uma bengala de cegos.
Mirando a câmera para um grupo de pessoas ele ajusta o enquadramento. “Quem está na esquerda? E na direita? Por favor, quem estiver no meio fala alguma coisa”. E ouve-se o som do capturador da máquina. Logo os fotografados caminham até ele e conferem o surpreendente resultado no visor digital.
Marco e outros deficientes visuais fazem parte do projeto Alfabetização Visual, desenvolvido no Senac Santo Amaro desde abril de 2008.
“A ideia surgiu dos alunos de informática para deficientes visuais aqui do Senac”, revela Fernanda Romero, professora de fotografia. “Eles levaram a proposta ao professor João Kulcsár, coordenador do projeto Imagem e Cidadania. Ele abraçou a ideia e logo os alunos estavam em aula”.

Fernanda Romero
Em 2010, o projeto exibiu sua segunda exposição, chamada “Acessibilidade”. Ela expõe fotos tiradas durante o ano de 2009. Os fotógrafos focaram os problemas enfrentados por deficientes visuais nas ruas de São Paulo.
“Fizemos algumas excursões. Em frente à Fundação Dorina Nowil está o único semáforo sonoro da cidade que, a propósito, está quebrado”, conta Fernanda.
As fotografias são tiradas de uma perspectiva diferente, destacando o que ninguém vê, como detalhes de relevos nas ruas. As câmeras são colocadas no mesmo nível do chão, para ressaltar as saliências que tanto diferenciam a caminhada de um cego.
“As fotos deles são mais elaboradas do que a de um fotógrafo comum. Eles não só sabem os retratos que querem: há um processo de concepção da imagem muito mais forte. Quando se imagina e elabora tudo, uma captura mais certeira é possível”, explica a professora.
Algo que impressiona é a qualidade técnica das fotografias. Nota-se que os planos, como distância e proximidade, são enfatizadas. “Há um recurso de profundidade de câmeras, que a gente consegue de diversas maneiras, como colocar a máquina próxima ao objeto que se quer fotografar. Eles já estão incorporando inclusive técnicas fotográficas abordadas nas aulas”, adiciona Fernanda Romero.
As fotos são tão peculiares quanto à própria concepção do projeto. “ Mesmo havendo um preparo de onde posicionar a câmera, escolha dos enquadramentos, o resultado visual sempre será imprevisível e único”, afirma Fernanda.
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