quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional do Cafajeste

Dia Internacional da Mulher é só uma data! Qualquer mulher ou qualquer outra causa que mereça respeito tem que ser muito mais do que um dia no calendário. Como forma de reconhecimento é bem legal, sempre! Agora, ficar esse mimimi falso é que é um saco. Um bando de safados 171 postando coisas bonitinhas quando na verdade o malandro tá querendo pagar uma de romântico só pra depois fazer todo mundo sabe o quê!
E o pior é que tem mulher que acredita e abre as pernas para esses caras! Aí depois fica choramingando, dizendo que homem é tudo igual e não presta... Porra! Mulher que cai nessas é que não é diferente! Fica o tempo todo querendo um mimo de alguém até achar outro cafajeste e fazer tudo de novo!
Ah, por favor! Mulheres, vocês são muito mais do que isso. Uma data que simboliza a morte de operárias por um idiota machista é muito importante de ser lembrada. Mas continuar sendo mimadas por um outro bando de machistas não é avanço e nem feminismo nenhum! É só uma babaquice sem tamanho!
Abram o olho e Feliz Vida de Mulher!

sábado, 4 de dezembro de 2010

“Pai, volta pra casa”

A verdadeira história do Homem do Saco

“Eu estava tomando cerveja na padaria, quando olhei pra fora e vi um homem de terno segurando o braço dele”, conta Cláudio de Andrade. Um mendigo velho, com o corpo coberto por um monte de sacolas plásticas sujas, era segurado por um homem engravatado. “Pai, volta pra nossa família”, dizia o jovem. Segundo os taxistas que trabalham lá perto, esse rapaz era um advogado.
Cláudio morou no Capão Redondo por muitos anos. E assim como todos os que andam pela região do metrô, conheceram o misterioso – porém carismático – Homem do Saco, como era chamado.“Pois é, ninguém sabe direito por que ele vivia nas ruas. Alguns dizem que ele largou tudo depois de uma desilusão amorosa. Dizem até que era um engenheiro. Mas isso são só alguns boatos”, afirma Cláudio.
“Uma coisa ele tinha de bom: não mexia com ninguém nem recebia nada”, conta a Irmã Tereza Bastelli, uma das raras que conheceu um pouco desse senhor. “Ele nunca pedia nada, no máximo aceitava comida de algumas pessoas específicas. Uma vez eu ofereci uma camiseta nova e ele recusou. Disse que não precisava, que aquela toda rasgada que ele usava por baixo das sacolas ainda estava boa”, detalha a freira.
Uma das pessoas com quem ele conversava era Arianne, uma garotinha para quem ele revelara até o nome. “Eu ia à padaria e os dois ficavam lá conversando. Ela gostava muito do Raul, e ele, por sua vez, era muito simpático com ela”, conta Geni Oliveira, mãe de Arianne. “Uma vez, não sei como, ele tinha cinco reais e queria comprar alguma coisa nessa padaria. Mas é claro, não deixaram entrar. Estava muito sujo e fedido. Isso deixou a Anne louca da vida”, explica a mãe.
“Ele tinha dinheiro, por que não deixavam entrar?”, conta revoltada até hoje a menininha de 10 anos. Ela perguntou ao andarilho o que ele queria comer e comprou um lanche para ele com aqueles cinco reais. “A Arianne insistia tanto, que às vezes a gente deixava uma sopa para ele na portaria do condomínio”, diz Geni.
“Se você perguntasse quando ele foi parar na rua, ele não respondia. A mesma coisa se você perguntasse da família. Posso te dizer que ele está aqui pelo menos desde 1982, que foi quando cheguei ao Capão”, relata Ceará, dono de um bar. “Eu era uma das pessoas que mais conversava com ele e, por isso, também era um dos poucos de quem ele aceitava comida. O velho sempre vinha almoçar aqui. Mas toda vez que eu perguntava da família ele ficava quieto.”
Ceará foi uma das pessoas presentes nos momentos finais do Homem do Saco. “Acho que foi em 2005. A Irmã Tereza me disse que ele estava machucado.”
“Eu estava rezando quando uma colega me disse que o Raul estava debaixo de um saco há três dias. Para mim, o próximo é quem está lá. Larguei o que estava fazendo e fui vê-lo”, relata a Irmã Bastelli. “Cheguei lá e ele estava embaixo de uns sacos, só com a perna de fora, tomando chuva.” Tereza estava com Ceará e sua esposa.
“Foi um carro que passou em cima da minha perna, tá doendo muito”, disse o mendigo. Eles logo ligaram para a emergência, pedindo que viessem resgatar um morador de rua. Mas a ambulância demorou muito para chegar. “Passava uns 20 minutos, a gente ligava outra vez e nada”, relata a religiosa. Ela ligou para a polícia e disse: “Por favor, tem uma pessoa aqui doente, já estou desde manhã com ele esperando”.
Os policiais disseram para ela ir embora, que também já tinham recebido o pedido e que dali a pouco iriam lá buscá-lo. “Olha, não vou sair daqui. Estou com um homem que está tomando chuva e com o pé inflamado. Ele precisa ir para o hospital”, respondia a freira. Ainda sim, pediram para que ela voltasse para casa. “Não vou pra casa enquanto não chegar uma ambulância pra levá-lo ao hospital. Se vocês chegarem aqui não vão sequer perceber que é uma pessoa, vão pensar que é um amontoado de lixo. Estou com 20 de pressão, tenho 84 anos, mas não vou deixá-lo aqui sozinho” resistiu a senhora.
Ceará ameaçou ligar para um jornal e, aí sim, uma ambulância chegou. Tiraram os sacos de seu corpo e o puseram numa maca. Nesse momento, Raul chamou a Irmã Tereza Bastelli com um gesto. O que estava prestes a fazer é um dos maiores mistérios que envolvem o Homem do Saco. Tirou de uma das sacolas restantes um envelope. E lá havia 140 reais. “Seu Raul, vou guardar para o senhor”, disse a freira.
“Meu filho, custou para encontrá-lo quando fui lhe fazer uma visita no Hospital Campo Limpo. Não o reconheci; deram banho e cortaram a barba. Foi só aí que descobri que ele era branco”, relata a Irmã. “E foi lá mesmo ele morreu depois de uns dez dias. Ele estava todo infeccionado”.
“Com aquele dinheiro, comprei alimento e doei”, conta ela a respeito do destino da herança de um mendigo.
“Mais ou menos um ano depois, apareceu um casal no convento perguntando sobre ele”, continuou a freira. A mulher era irmã de Raul e explicou que ele não gostava de morar na casa deles. “Só que agora nós compramos um sítio, fizemos um quartinho para ele e viemos procurá-lo”, indagou a mulher esperançosa, mostrando o documento de identidade do irmão.
Tereza Bastelli teve de dar a notícia. “Ele morreu, mas morreu sossegado e muito bem cuidado”. O casal nunca mais voltou. “Gostaria de saber onde ele foi enterrado, para poder confortar a família”, lamenta a Irmã Bastelli.
“Sabe, quando as pessoas vêm um mendigo, geralmente ficam com medo. Mas com ele era diferente. Todo mundo aqui tinha um certo carinho por ele”, recorda Ceará.
Ao contrário dos moradores de rua comuns, Raul não foi invisível. As pessoas não só notaram, como também sentem sua falta. “Ele era muito bom. Não sei se eu sou tão boazinha como ele”, declara Tereza Bastelli. “Às vezes me dizem: ‘dá saudade do Seu Raul’. Aí eu digo: dá mesmo.”

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Alguma coisa tem mudado da ponte pra cá

A história das mudanças e desenvolvimento de um bairro ao mesmo tempo muito e pouco conhecido

“Quando meu pai se mudou para cá, o Capão Redondo ainda nem tinha esse nome”, conta a senhora Vilma De Lucca Urizzi, de 73 anos, moradora do bairro desde que nasceu. Justamente por ser um bairro famoso internacionalmente por sua pobreza e violência, poucos sabem que seus primeiros habitantes “eram de famílias abastadas. Foram alemães que viviam em Santo Amaro que acharam a região muito bonita e decidiram comprar um terreno enorme”, revela Dona Vilma sobre a venda de 70 alqueires (mais de 1,6km) para adventistas que fundariam lá uma grande instituição de ensino em 1915.
O CAB (Colégio Adventista Brasileiro), mais tarde conhecido como IAE (Instituto Adventista de Ensino) e hoje tido como Unasp (Universidade Adventista de São Paulo) foi um ponto de partida para o crescimento do Capão Redondo. “Proprietários começaram a comprar terras em volta do colégio, onde matriculavam seus filhos”, explica Vilma.
A luz elétrica chegou à região entre 1956 e 57, um pouco antes de asfalto que veio em 58, quando Luiz Antônio de Luca ainda era uma criança de quatro anos. “Lembro que tinha só um ônibus que passava aqui. Era o ‘Jardineira do Guerra’, que ia para Santo Amaro, de onde saiam bondes ou outros ônibus para o centro”, descreve Luiz. “Isso aqui era como o campo. Na época dizíamos inclusive que estávamos indo para a ‘cidade’, não para o ‘centro’, como dizemos hoje.”
E o Capão Redondo tinha razões de sobra para ser considerado como campo. “Aqui onde hoje é o pátio de manobras do metrô era um campo enorme de plantação, com um córrego atrás. Hoje em dia o que resta é o córrego poluído”, detalha Luiz de Luca.
“Já haviam alguns barracos isolados por aqui quando eu era pequeno, mas as grandes ocupações irregulares começaram mesmo lá por meados dos anos 60”, fala o morador a respeito do que então levaria o bairro a uma fama internacional de pobreza.
As décadas seguintes trouxeram índices de homicídios comparáveis aos da Guerra do Vietnã. Mas essa história e pobreza e mortes todos já conhecem, ou pensam que conhecem.
Mas o fato é que de uns anos para cá, a vida de quem mora nesse bairro tem mudado consideravelmente, e não só pela redução nas estatísticas de violência. “Eu me lembro de quando começou a surgir um monte de lojas de móveis e eletrodomésticos lá perto de casa. Fiquei até com medo de que aquilo ali virasse um Largo 13”, conta Fabíola Fabbris, 20, sempre moradora do Capão.
Priscila Miagui, que mora e trabalha no bairro, lembra ainda detalhes interessantes dessas lojas. “Elas foram construídas com uma pilastra na fachada, pra impedir que algum caminhão arrombasse o portão e roubassem a mercadoria.”
“Depois da construção do metrô, a região ficou mais valorizada. Começou a surgir de um dia para o outro um grande comércio em volta da estação Capão Redondo. Agora nós temos até um shopping”, diz Fabíola sobre o Shopping Campo Limpo, inaugurado em 2005.
E esse crescimento trouxe muito mais empregos para o Capão Redondo, o que serve de exemplo de logística para a cidade de São Paulo. “Milhares de moradores, que antes tinham de se locomover até a ‘cidade’ para trabalhar, agora gastam só alguns minutos para chegar ao serviço”, afirma Mariana Luz que trabalha no Capão e mora no Campo Limpo, bairro vizinho.
Mas para ela, embora tenha melhorado bastante, ainda há muito para se aperfeiçoar. “Aqui não tem baladas nem restaurantes”, queixa-se a estudante. “Apesar de termos o Hospital Campo Limpo, que aliás está bem melhor, ainda precisamos de mais médicos e clínicas por aqui”, acrescenta. Mesmo assim, ela toparia viver por lá para o resto da vida. “Se as condições de vida continuarem melhorando, não tenho por que me mudar. Quem vive no centro também tem suas desvantagens, como o caos e o barulho, por exemplo”, esclarece Mariana.
“Esse lugar tem mudado muito”, comenta Dona Vilma. De 1937 pra cá, ela é uma das poucas que sabe tanto sobre o que se passou no Capão Redondo. Imagina também o que ainda virá de bom sem se esquecer do que jamais voltará. “Isso tudo era maravilhoso, lindo. Eu cresci brincando no córrego limpo, pulando nos cipós que tinham na mata daqui. Tinha até animais silvestres, como veados. Nós dormíamos de porta aberta...”



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CouchSurfing: A melhor forma de viajar

Não se trata de uma propaganda de agência de turismo. A maneira mais barata é também a melhor para conhecer outros países

“Cara, viajei para vários lugares: Irlanda, França, Grécia, Suécia, República Tcheca, Hungria, Croácia, Áustria, Itália...”, conta Luiz Castel, engenheiro químico. O que há de especial nisso tudo é que por praticamente todos os lugares em que passou, dormiu em um sofá. Ele é membro da rede social CouchSurfing, que promove uma interação entre amantes por viagens. Alguns dos participantes oferecem seus sofás como forma de hospedagem para outros membros da comunidade. “O que a gente gasta com estadia dá cerca de 30% dos custos de uma viagem. Acho que já economizei uns 3 mil euros.”
“Mas a ideia do CouchSurfing não é só economizar. Ele resgata valores, como o da confiança, a ponto de você receber um viajante desconhecido em sua casa”, conta a assessora de imprensa Ana Carolina Alves. “O CS é uma forma diferente de conhecer pessoas e lugares. As viagens não seriam a mesma coisa se fossem feitas com um guia turístico”, acrescenta.
E a comunidade não existe só para viajantes. Você pode ser um membro sem ter que oferecer seu sofá. “Fazemos uma reunião toda semana em um bar de São Paulo. Aqui vêm pessoas que estão viajando ou apenas quem só quer interagir com a gente”, explica Ana Carolina.
“É muito fácil se misturar com o pessoal aqui. Os novatos recebem um crachá vermelho. Aí, se alguém te ver sozinho, vai lá e conversa com você”, diz Luiz Castel.
E de fato dá para fazer um baita intercâmbio só de conversar com os estrangeiros, que são cerca de 40% das pessoas do bar. Pieter Glas, um tradutor holandês, falou muita coisa sobre seu seus país e os outros que visitou pela Europa. “Gostaria que as pessoas visitassem a Holanda para admirar nossa arquitetura e diversos pontos turísticos, em vez de vir acreditando vão encontrar só drogas e prostituição”, desabafou ele. Além disso, discutiu e perguntou sobre o Brasil, Pré-Sal e imigração.
Numa mesa, conversando com brasileiros curiosos, estava um professor de bioquímica da Universidade de Havana. Você sabia que em Cuba você não pode hospedar alguém em sua casa? “Um dia ou dois no máximo, mas não podemos chamar nem um amigo que more em outra província, muito menos alguém de fora do país”, revela Dayrom Gil, que está no Brasil para pesquisas com professores da Unifesp. Portanto, o CouchSurfing é proibido em Cuba, assim como o acesso livre a internet. “Lá nós não podemos ter internet em casa. Só indo para um cyber café, onde a internet ainda é censurada”, conta o cubano.
Qualquer um pode se inscrever no site couchsurfing.org. “Na sua página pessoal você pode definir seu perfil como anfitrião. Lá você também revela hábitos, como se você fuma ou não, por exemplo”, comenta Carolina de Paula, uma carioca que se hospedou em São Paulo através do site. “A mulher que está me hospedando me entregou até as chaves da casa”, adiciona Carolina. “Eu entrei no CS em setembro, querendo hospedar pessoas. De lá pra cá, já hospedei seis pessoas. O mais legal foi um italiano, que inclusive me ajudou com algumas compras. Fiquei uma semana comendo macarrão de um italiano”, diz a carioca rindo.
Outros, como Luiz Castel, o engenheiro químico do começo dessa matéria, se diverte mesmo como hóspede. “Viajei 45 dias pela Europa e paguei só duas estadias. Na Suécia gastei 30 euros em cinco dias, sendo que os guias dizem que você gasta pelo menos 100 euros por dia. Sem contar com alguns luxos que dei a sorte de encontrar. Na Bélgica, uma senhora de 50 anos me encheu de chocolate e cerveja Belga. Ela me mostrou a cidade inteira, e me deu toda a comida da casa dela”, conta Luiz.
E suas viagens continuarão: “Meu próximo sofá está me esperando no México”, conta o CouchSurfer.

domingo, 26 de setembro de 2010

Tudo que você precisa saber até o próximo dia 3

Muito cuidado na hora de apertar “Confirma” este ano, você pode ter surpresas

“Se você pensa que votar nulo vai provocar a convocação de novas eleições está muito enganado”. O alerta é de Gianfranco Faggin, analista processual do Ministério Público Federal. Ele explica que “isso é lenda urbana. É uma mentira absurda. A única hipótese de cancelamento de uma eleição é quando ocorre comprovação de uma fraude que afete mais de 50% dos eleitores”. Ele explica: “Se você votar em Branco ou nulo dá na mesma. Esse voto não vai para o candidato que recebeu mais votos.”

Diante dessa necessidade de achar alguém em quem votar é que o eleitor deve tomar mais cuidado ainda. Existem muitos políticos com ficha suja que por enquanto não tiveram suas candidaturas impugnadas. Da mesma forma que existem inclusive candidatos sendo procurados pela Interpol. Todavia, a lei impede que eles sejam bloqueados. “Pela Constituição todos são inocentes até serem julgados em última instância. Caso sejam eleitos e depois forem considerados culpados, aí sim serão automaticamente cassados”, explica Gianfranco.

Outro assunto polêmico neste ano foi a tentativa de alguns candidatos impedir que humoristas fizessem piadas ridicularizando-os. O fato só se tornou ridículo de verdade quando muitos dos postulantes a cargos eletivos começaram a fazer palhaçada durante o horário político. “Além disso a lei brasileira não contempla a censura, que remonta períodos que não gostaríamos que fossem lembrados”, afirma o analista. “O Supremo reconheceu o direito de manifestação dos humoristas. Mas por ser uma liminar, teve apenas efeito suspensivo.”

Por outro lado, se você está ficando cada vez mais tentado a fugir das urnas, saiba primeiro o que pode acontecer a quem não vota e nem justifica. “Essas pessoas recebem uma multa, que muitas vezes é pequena demais. O mesmo vale para os candidatos que praticam irregularidades, como propaganda antecipada. Logo, o custo-benefício acaba valendo a pena, já que esses candidatos de grande porte foram multados em apenas 5 mil reais por infração”, conta o analista. “Enfim, esse tipo de punição mais fraca é um incentivo tanto para o povo, como para os candidatos. Isso acontece porque quem faz essas leis são os próprios políticos, eleitos exatamente pelo povo”, conclui.

E por fim, há uma informação importante a respeito dos candidatos que têm feito da palhaçada uma forma de conquistar votos. “Existe a figura dos puxa-votos, como foi o caso do Clodovil e muitos outros. O Enéas, por exemplo, teve cerca de 1,5 milhão de votos, e com isso conseguiu quatro cadeiras no congresso. Na ocasião, os outros três mais votados pelo PRONA também foram eleitos, sendo que um deles tinha apenas 200 votos.” Gianfranco dá um alerta sobre o artifício usado por muitos candidatos corruptos que querem voltar ao poder. “Eles podem conseguir isso mesmo sem receber o seu voto. Não se enganem, tem muita gente por trás desses candidatos cômicos à espera de uma chance de serem eleitos”, avisa o especialista em processo eleitoral.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Como fazer até pedras falarem

Se você ainda acha que aprender inglês é algo chato, conheça o grupo teatral Speaking Stones

“É a melhor sensação do planeta”, diz Camila Honorato, 15, sobre fazer teatro em sua escola de idiomas. E assim como todos os amigos que fez por lá, ela não tem dúvidas de que acrescentar teatro ao seu curso de inglês foi a melhor forma de aprender a língua.
Só há aulas de teatro uma vez por semana, mas os alunos não conseguem se afastar da escola. É um ponto de encontro para ensaiar e estudar. “Até mesmo às vezes, quando não tenho nada pra fazer, venho pra cá só pra ver se encontro o pessoal”, admite Luiz Francisco, um dos mais velhos do grupo, com 17 anos.
Essa relação entre aluno e escola também agrada aos professores. “Poxa, isso torna tudo muito mais humano. Uma escola não pode querer alunos apenas dentro da sala de aula”, diz teacher Soraia sobre a vontade de frequentar a escola que surgiu entre os alunos. “Essa também é nossa função”, completa ela.
“Pensei que se entrasse nesse grupo de teatro, poderia me expressar melhor. Inclusive em português”, conta a envergonhada Crislaine, de 15 anos. Já Bruno, procurou o teatro por outro motivo. “Pra mim a questão não era bem timidez, não sou tímido. Entrei pelo inglês mesmo”, explica o rapaz.
Como as peças que apresentam são todas em inglês, os alunos são forçados a estudar os importantes e mínimos detalhes do idioma, como a pronúncia. “De tanto ir repetindo e exercitando você vai gravando tudo na cabeça”, explica Luiz Francisco. Seu colega de palco e amigo, Carlos Eduardo, complementa: “além do mais, aprendemos expressões e gírias que não vemos em sala de aula”.
O desafio de montar uma apresentação com figurino, cenário, trilha sonora e tudo o mais que um grande espetáculo engloba é uma grande provação para os jovens. “A gente pega muito mais confiança em tudo e compreende a necessidade de ajudar os companheiros”, diz Brenda sobre o esforço que só pôde ser visto por aqueles que ficaram escondidos, trabalhando atrás das cortinas também.
“Quando a peça termina, vem todo aquele alívio de dever cumprido. Aí você vai, agradece à plateia e se sente diante de algo inexplicável”, conta Camila Paes, lembrando ainda de sua última apresentação, há quase dois meses. Sua xará Camila Honorato resume seu conceito de teatro, que já ficou muito além de apenas aprender o inglês. “Compreender a convivência, organização e a noção de responsabilidade é o mais importante”, detalha a atriz bilíngue.

Crescendo sem pais

As crianças criadas em abrigos

Eliane é mãe de quatro filhos. Seu marido é viciado em drogas e a agride com frequência. Suas condições financeiras não lhe possibilitam cuidar dos quatro filhos, tampouco do quinto que está para vir em breve.
“Todos familiares de Eliane insistem para que largue o marido, mas ela fez questão de dizer que o ama na frente do Juiz”, conta a assistente social Fátima Lopes de Oliveira.
Esse é um caso comum na Vara da Infância do Fórum de Santo Amaro, e o Juiz em questão avaliava as possibilidades de se manter a guarda das crianças com a mãe. Seus filhos foram enviados para um abrigo, onde primeiramente passarão pelo processo de reintrodução à família. “E caso seus pais ou familiares sejam considerados incapazes de possuir a guarda, essas crianças são encaminhadas para adoção”, relata Fátima.
O Lar São Thiago é um abrigo localizado na Zona Sul de São Paulo, próximo a Itapecerica da Serra. Essa casa abriga 39 crianças, a maioria delas já com mais de oito anos de idade. A instituição sempre passou por inúmeras dificuldades, como falta de alimento e estrutura. O lar depende muito de doações, mas não é apenas comida o problema do lugar. “A gente também sente muito a falta de produtos de limpeza, pois recebemos geralmente apenas alimentos”, explica Vera Lúcia Moraes, monitora do Lar São Thiago.
Um muro foi construído recentemente para que as crianças não tivessem contato com um córrego poluído que passa por trás do playground do lar. A sala de estar possui goteiras no teto e há outro muro, mas este com risco de desabar sobre o lugar onde antigamente funcionava uma horta.
Frente a todos esses problemas, está uma equipe de voluntários que trabalham diariamente na instituição. “O pessoal da limpeza e da cozinha já trabalha com a gente há muito tempo, são funcionárias fiéis. Estão aqui todos os finais de semana”, conta Vera.
E assim o abrigo vai tomando conta das crianças até que seus pais tenham os problemas judiciais resolvidos. Quando isso não acontece, o menor pode ser enviado para adoção.
Porém, muitos deles já estão em idade avançada ou têm irmãos, o que dificulta o processo. “Há irmãos que são adotados juntos, mas geralmente é um caso de adoção internacional. Assim como crianças deficientes”, revela a assistente social. Segundo ela, não há muitas adoções desse tipo por parte de brasileiros. “Os irmãos podem até serem separados na adoção, desde que as famílias assumam o compromisso de manter contato entre eles.”, declara.
De qualquer forma, esse tipo de adoção se torna raro. “Algumas dessas crianças desenvolvem um sentimento de culpa, pois assumem alguma responsabilidade pela distância com os pais. Mas em outros casos, essas crianças sequer sentem a falta de uma mãe. Só sentiriam falta dos próprios irmãos”, diz Fátima.
E por fim, alguns desses jovens chegam à maioridade. “Nesses casos a gente tenta reintegrá-lo com a família, mas nem sempre é possível”, afirma Vera. Se não houver algum responsável com quem deixar o jovem, a única coisa a ser feita pela Vara da Infância é um trabalho de autonomia que o prepare para ser independente, definindo assim o fim de uma etapa na vida de um jovem sem pais.

O que os cegos veem

A Projeto Acessibilidade exibe fotos tiradas por cegos


Foto: João Maia

“Com licença, posso tirar uma foto de vocês?”, é assim que Marco Oton, deficiente visual, aborda as pessoas na rua. Qualquer um olha com estranheza o sorriso desse rapaz que carrega nas mãos uma câmera e uma bengala de cegos.
Mirando a câmera para um grupo de pessoas ele ajusta o enquadramento. “Quem está na esquerda? E na direita? Por favor, quem estiver no meio fala alguma coisa”. E ouve-se o som do capturador da máquina. Logo os fotografados caminham até ele e conferem o surpreendente resultado no visor digital.
Marco e outros deficientes visuais fazem parte do projeto Alfabetização Visual, desenvolvido no Senac Santo Amaro desde abril de 2008.
“A ideia surgiu dos alunos de informática para deficientes visuais aqui do Senac”, revela Fernanda Romero, professora de fotografia. “Eles levaram a proposta ao professor João Kulcsár, coordenador do projeto Imagem e Cidadania. Ele abraçou a ideia e logo os alunos estavam em aula”.


Fernanda Romero

Em 2010, o projeto exibiu sua segunda exposição, chamada “Acessibilidade”. Ela expõe fotos tiradas durante o ano de 2009. Os fotógrafos focaram os problemas enfrentados por deficientes visuais nas ruas de São Paulo.
“Fizemos algumas excursões. Em frente à Fundação Dorina Nowil está o único semáforo sonoro da cidade que, a propósito, está quebrado”, conta Fernanda.
As fotografias são tiradas de uma perspectiva diferente, destacando o que ninguém vê, como detalhes de relevos nas ruas. As câmeras são colocadas no mesmo nível do chão, para ressaltar as saliências que tanto diferenciam a caminhada de um cego.
“As fotos deles são mais elaboradas do que a de um fotógrafo comum. Eles não só sabem os retratos que querem: há um processo de concepção da imagem muito mais forte. Quando se imagina e elabora tudo, uma captura mais certeira é possível”, explica a professora.
Algo que impressiona é a qualidade técnica das fotografias. Nota-se que os planos, como distância e proximidade, são enfatizadas. “Há um recurso de profundidade de câmeras, que a gente consegue de diversas maneiras, como colocar a máquina próxima ao objeto que se quer fotografar. Eles já estão incorporando inclusive técnicas fotográficas abordadas nas aulas”, adiciona Fernanda Romero.
As fotos são tão peculiares quanto à própria concepção do projeto. “ Mesmo havendo um preparo de onde posicionar a câmera, escolha dos enquadramentos, o resultado visual sempre será imprevisível e único”, afirma Fernanda.

A loucura escondida em nós

Mesmo que imperceptíveis, todo louco tem mesmo suas manias

“Hitler pode ter sido uma pessoa com problemas relacionados ao ânus”. A afirmação é de Bruno de Luca, 20, estudante de psicologia, em relação ao excesso do desejo de ordem do ditador. “As crianças entre dois e quatro anos começam a segurar a vontade de ir ao banheiro devido ao surgimento da consciência do domínio do esfíncter, o que lhes dá pela primeira vez a sensação de controle. Uma frustração vivida por uma criança nessa fase, como defecar-se em público, pode influenciar uma personalidade pelo resto da vida”, explica Bruno.
Pouco se sabe a respeito das manias, ou melhor, TOCs (Transtorno Obsessivo Compulsivo) de Hitler, mas com certeza todas eles estão relacionadas às suas experiências e/ou frustrações. Segundo o autor e psicólogo Daniel Marcelli, em seu livro Infância e Psicopatologia, “as condutas obsessivas assumem a forma de pequenos rituais dispostos em setores suscetíveis de mobilizar a angústia”.
Bruno Bezerra, estudante de jornalismo, diz ter hábitos muito estranhos. São basicamente rituais que realiza na hora de se arrumar. Ele religiosamente veste primeiro a calça e depois a camiseta. Na hora de tirar a roupa, tem que manter a mesma ordem: calça e depois camiseta. E com os sapatos também. Se calçar primeiro o pé direito terá de descalçá-lo antes do esquerdo.
“Esses TOCs não tem origem definida; mas provavelmente são frutos de alguma experiência que traumatizou e traz angústia ao ser humano”, conta Marina Fernandes, estudante de psicologia. “Muitas vezes as pessoas sequer se lembram dessa tal experiência, mas ela fica gravada no subconsciente”.
O mais impressionante é que todos têm hábitos que não possuem muito nexo. Muitos conhecem essas manias, consideram-nas ridículas, mas não conseguem controlar tal comportamento compulsivo.
O simples ato de mexer no volume da televisão ou do rádio do carro abriga uma mania quase unânime entre as pessoas. Começa-se a aumentar o volume da TV até o momento em que o som se tornar agradável, e nesse momento checa-se o número que o aparelho exibe. Se o volume estiver marcando 19, torna-se quase irresistível arredondá-lo para 20. Pois é, a vontade de ordem visual supera a satisfação que o volume traz.
E há ainda outros exemplos mais comuns. Quem nunca comeu aquele chocolate chamado Tortuguita? Aquele em cuja propaganda uma tartaruguinha sempre tinha sua cabeça comida. Seja por influência do comercial ou não, é difícil encontrar alguém que comesse o chocolate todo de uma vez. Há algo que praticamente força as pessoas a comerem primeiro a cabeça, patas e rabinho para depois deliciar o casco recheado.
Cada um pode ter um motivo para fazer isso, mas é óbvio que tudo tem origem em alguma (micro)angústia. “Seja você Hitler ou qualquer outra pessoa; ninguém é livre de uma experiência que tenha gerado frustração e pelo menos alguma mínima obsessão”, resume Marina.

O setor de diversões tem vagas sobrando

O que poucos sabem sobre como descobrir e utilizar um palco para realizar suas apresentações e tentar subir na vida


Foram três anos de vazio, aguardando ansiosamente pela sensação de estar num camarim novamente, olhando para aquele espelho rodeado de lâmpadas. A vontade e a saudade eram enormes, mas como voltar a atuar? “Meu, nem posso acreditar, o teatro é nosso”. O desabafo é de Rodrigo Araújo, estudante que ao lado de quatro amigos aprecia o palco que agora tem para usufruir. O momento chegou e a distância pouco importa agora. Alguns deles pegaram três ônibus, numa viagem de quase uma hora e meia até o CEU Vila Rubi, na região do Grajaú.
Todos estavam felizes pela primeira reunião do Grupo de Teatro Ateliense, formado por velhos amigos que simplesmente sentiam saudade dos palcos.
“Já temos apresentação marcada para 23 de maio aqui mesmo no CEU, e podemos usar o teatro para ensaiar todos os domingos”, conta Priscila Soares, líder do grupo amador. Eles estão ocupando apenas algumas poucas das centenas de cadeiras do teatro, ouvindo as novidades contadas pela diretora.
Poucos sabem das inúmeras opções de cultura que os CEUs (Centro de Educação Unificado) deixam à disposição da população. “Decidimos entrar em contato com a escola, e depois de apenas algumas conversas e propostas, a direção liberou um espaço para nós. A verdade é que não tínhamos dinheiro, mas queríamos um lugar para ensaiar”, conta Priscila.
O terceiro andar do CEU Vila Rubi abriga cinco ateliês, dos quais quatro ficam vazios e desperdiçados nas tardes de domingo. O Grupo Ateliense, cujo nome é um trocadilho entre “ateniense” e “ateliê”, ocupa apenas uma dessas salas.
“Será que há dez anos o Brasil ofereceria tanto espaço para uns loucos que só queriam fazer arte?”, questiona Rodrigo. “Uma coisa é fato: vivemos num país diferente daquele em que nascemos”.
“Quando fazíamos teatro estudantil, apresentamos em diversos lugares, e não podemos deixar de destacar que os CEUs têm os melhores equipamentos que já usamos”, explica Priscila sobre o patrimônio público.
Os atores ainda podem contar com a ajuda da instituição para imprimir textos e cópias utilizados para ensaios. “O objetivo, claro, não é ganhar dinheiro com tudo isso. Só queremos apresentar por diversão sem cobrar nada, no máximo um quilo de alimento não perecível para doarmos para alguma instituição”, expõe Rodrigo.
“Está tudo aqui à disposição da população, de graça. Agora falta apenas despertar o interesse pela arte nos brasileiros”, finaliza o ator, girando os braços para todos os lados do teatro.