domingo, 2 de novembro de 2008

Racismo é burrice

Pode parecer uma conclusão besta, mas por incrível que pareça, branco sofre racismo (de forma contrária, claro). É até compreensível, pois o racismo se tornou mecânico nas pessoas.
Estava com meu irmão no ônibus, voltando pra casa. Devido ao azar estávamos sentados nos últimos bancos quando três jovens se aproximaram. Dois negros e um branco (com aquele cabelo meio descolorido e com gel, bem ridículo…). Olhei pelo vidro traseiro pra ver se o outro ônibus que me leva pra casa já vinha.
– Bem que o Capão Redondo – nome do ônibus – poderia passar agora...
Nisso fomos abordados.
– Passa celular e carteira.
Nunca havia sido assaltado, não fazia idéia de qual seria a minha reação. Surpreso comigo mesmo, comecei a negociar. Não tinha nada na carteira, apenas documentos. E isso não é modo de falar, não tinha nada mesmo e deixei os assaltantes bem cientes disso. Lógico, tive de provar também. Depois de frustrá-los, pediram-me o celular. Nova cara de frustração.
– Porra, pode ficar. Isso aí não tem nem música.
Então chegou a vez do meu irmão. Nessa hora fiquei feliz por saber que ele tinha gasto o dinheiro, mas ainda havia quinze reais na carteira. Havia.
Depois de ter revirado todos os bolsos, os bandidos finalmente acreditaram que meu irmão não tinha celular em pleno ano de 2008. A cara de incredulidade deles foi ainda mais fantástica.
– Então vamos pegar os tênis!
Mais uma decepção. Fiquei até sem jeito por não poder ajudar minhas companhias. Um par de All Star velhos e outro par de marca genérica mais velhos ainda.
Infelizmente nenhum deles ficou conformado em levar apenas quinze reais pra casa. Isso dividido entre os três mal daria pra um “cafezinho”. Até porque ainda se descontaria quase metade da grana com as passagens. Talvez por isso, lembraram-se de pedir meu Bilhete Único.
Parece brincadeira, só que mais uma decepção. Porém, dessa vez eles só a teriam mais tarde. O bilhete não tinha mais do que cinqüenta centavos de crédito. Eu até avisei, mas eles não quiseram acreditar em mim. Vê se pode!
Decepcionado, um deles resolveu pedir o celular mesmo assim. Pedi o ship, claro. Como um legítimo gentleman do Capão, o azarado ladrão atendeu a meu pedido.
Olhei para o lado. A moça loura também havia sido roubada. Acredito que com ela obtiveram mais êxito; pelo menos é o que demonstrava a cara dela. Ao meu outro lado um cara ouvia música no celular. Aliás, já se despedia do aparelho. Porém, nada fizeram a ele. Acho que também quiseram me ver com cara de bobo pelo menos por uma vez.
Antes de irem embora, o líder deles disse:
– Quando você “ver” uns caras suspeitos assim. Não precisa inventar que vai pro Capão!
Nessa hora o sangue subiu, mas não fiz nada, óbvio. Apenas respondi:
– Mas eu moro no Capão!
Fizeram outra cara incrédula. Já tinha até perdido a conta de quantas vira aquela noite. Aonde mais eu poderia estar indo naquele ônibus?! Como eles não foram capazes de ter este raciocínio?
O pior é a burrice. Meu irmão com tênis e roupa velha, camiseta azul desbotada. Este outro pobre coitado com uma bermuda velha (já a tenho há mais de cinco anos!) e uma camiseta do Gandhi descosturada e suja de sorvete, que foi até alvo de comentário de um dos rapazes.
Afinal, por que assaltaram dois caras muito mal vestidos, sem dinheiro e com apenas um celular velho (e até rejeitado)? Por que diabos insistiram tanto em nos roubar?
Fomos assaltados por gente muito mais bem vestida do que nós, consternados irmãos. O que aparentávamos de ricos? Infelizmente apenas a pele bem clara, assim como daquela loira e ao contrário daquele sortudo ao meu outro lado, que foi embora ouvindo música ao celular e me consolando também abismado.
Sob qualquer circunstância, racismo é burrice.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pô eles devem ter pensado q vc e seu irmão eram play boys indo ao Capão (disfarçados) para comprar umas "balinhas"....rsrs... universitarios play boys fazem isso.

Balalaika/Jazz disse...

Já dizia o poeta de quem estou muito aquém " Dá ponte pra cá o mundo é diferente". Na verdade nem tanto, do lado de lá, e do lado cá o racismo é igual.

A propósito Ricardo você tinha um CHIP da claro, não um NAVIO da claro conserta ai.